segunda-feira, 19 de junho de 2006


pode ser
que o próprio ser
aprove o ser
que deve ser
um novo ser

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Verbo

MarceloM

Viver,
ainda que de modo angustiante
auferindo aos trancos
o hálito revigorante.

Sofrer,
pois não há quem se lembre,
além do agente,
do que ele fez em prol de toda gente,
construindo um presente
que dele prescinde e se ressente.

Arder,
pela força do grito aprisionado,
que jaz quedado,
ante a ignorância,
mesquinha falência moral,
que se impõe,
malgrado o desejo de ver realizado,
cumprido, completado, o plano...

Morrer,
ainda que tardiamente,
amado, cuspido, escarrado, odiado.
De peito erguido,
cabelo ao vento elevado,
tempo e espaço curvado a ver,
tão plena obra,
num só encarnado.

Fluir,
de um plano a outro,
levar de um o que o outro carece,
com equilíbrio e majestade,
ponto vulgar, celebridade.
Não mais agora, nem tarde.
Sempre no ocaso, à tarde.

Ser,
e que o seja além do existir,
que enseja o desejo no ser,
que se arrasta insosso,
sem ânimo ou tormento que o faça sentir.
Que anseie transcender o próprio ser,
buscando apenas ser, tudo.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Não é difícil compreender os ETs

Longe de casa, depois do almoço, tempo livre antes de uma tarde de reuniões tolas e improdutivas.
Sem museus para visitar, nem dinheiro para gastar. Entro na livraria que me permite um sopro de civilidade e sonho.
Chama à atenção a banca de saldos “a partir de 1,99” não se encontra nada, mas pelo menos se gasta tempo. Útil para quem só tem tempo sobrando.
Vira e revira, quase dá vontade de arrumar. Colocar tudo em ordem, como se espera numa livraria. Mas ali não, a ordem é subvertida em favor do caos. Sem a “biblio”, restou a “economia”.
Tantos títulos repetidos, antiquados, sobre temas datados.
Alguns até bonitinho, capa não faz o livro, mas fica bonitinho e ajuda a vender, mas “Enfrentando a hiperinflação” e “dBase para iniciantes” não há capa que consiga vender.
Mas naquele amontoado de papéis algo tem um brilho especial. Bonitinho sim, título intrigante para um apaixonado por ficção científica, mas será que vai além da capa? Pequeno, quase modesto, parecendo pessoas “de atitude” que se destacam na multidão.
Lugar errado, caiu ali por acidente, não é “saldão”. Mas que seja, valeu cada centavo e ainda foi no cartão.
Abro. Abrir um livro é como molhar os pés na água para sentir a temperatura. Quase nunca nos diz como a água está, mas quando convida, nos impele a lançar o corpo de uma vez, por inteiro.
Me jogo, de ponta, e logo sinto um mundo silencioso, denso, envolvente, leve. De tal modo sufocante que me fazer buscar com sofreguidão o ar, meu próprio ambiente, mas sem nunca esquecer ou deixar de desejar voltar.
Estando lá, nas ondulações envolventes e cativantes, ora pensativas, ora alientantes, é possível entender como se sentem os estrangeiros.
Realmente, “não é difícil compreender os ETs”.
E como deve ser bela uma vida narrada pelas mãos que produziram a alquimia daquelas palavras.
Tensa, rápida, telegráfica. Ombros arqueados pelo peso de dores e idéias inacabadas. Os olhos alertas e o coração vibrante.
E a mente perguntando: Será ciência ou magia?
Simplesmente poesia.

Texto inspirado pela obra da autora Laís Chaffe.