quinta-feira, 9 de março de 2006

Pragas Urbanas I

Viver em cidades tem suas vantagens. Saúde, educação, lazer, comunidade.

Mas elas vêm acompanhadas de algumas pragas que insistem em nos atormentar.

São aquelas pequenas coisas que, quer seja pelo nosso amortecimento social ou pela inépcia das autoridades constituídas, vão se tornando mais e mais corriqueiras e passam a compor o panorama de nossas vidas em sociedade.

Um desses nefastos exemplos está caracterizado na figura do “flanelinha”, o guardador de carros.

Costumo comparar esta figura do cenário metropolitano com o catador de papel.

O catador é um trabalhador – apesar de ser um autônomo da informalidade, o seu trabalho se constituí de uma efetiva prestação de serviço à comunidade mediante uma remuneração.

O “flanelinha” é um marginal que, se valendo da exploração ilegal de um espaço público, faz uso da extorsão para auferir lucros.

Que serviço ele presta? Que bem o seu trabalho têm para a comunidade?

Não significa que todos os que se dedicam a esta atividade ilegal sejam criminosos. Em absoluto. Muitos são os que por falta de opção passam a atuar à margem da legalidade com o justo propósito de sustentar suas famílias.

Mas o espaço das ruas onde estacionamos nossos veículos é público e portanto não pode ser objeto de exploração comercial sem regulamentação legal (e em muitos casos como o das zonas-azuis já são). Assim, ninguém pode nos cobrar adicional para estacionar o veículo.

Mas estes profissionais do ilícito asseguram que estão cobrando “proteção”. Proteção contra furtos, roubo, vandalismo. Ora, é exatamente esse comécio da proteção que tornou os mafiosos famosos. Atualmente muitos traficantes têm usado tal prática para manter cativo seus redutos.

E é porque já está arraigado na memória popular que quem não paga, “paga mais caro”, é que a extorsão funciona.

Pagamos porque temos medo de que sejam eles mesmos os maiores agressores de nosso patrimônio.

Não é raro ver pessoas, principalmente mulheres, serem intimidadas e moralmente agredidas por estes indivíduos que se acham no direito de exigir pagamento por sua extorsão.

Mas porque todos nós ficamos com a consciência culpada, afinal “eu ainda tenho carro enquanto o coitadinho nem emprego tem”, vamos aceitando e cedendo a esta coerção imoral.

Não se deve abandonar os excluídos à própria sorte, mas tolerar mesmo as pequenas infrações que se avolumam no dia-a-dia só nos torna incapazes de agir com o rigor e rapidez necessário quando infrações maiores são praticadas.

Basta de flanelinhas, basta de guardadores. Não dê esmolas.

Em vez disso lembre-se que você é um cidadão e, como tal, tem não apenas o direito mas o dever de exigir que as autoridades tomem providências para tornar as ruas seguras e oferecer assistência aos necessitados.

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