sexta-feira, 9 de maio de 2008

Mo.S.Ca.


Nestes tempos em que se multiplicam o número de ONG’s e Associações dos mais diversos fins, decidi fundar um movimento também.

É o Mo.S.Ca. - Movimento dos Sem Calçada.

Não temos sede, diretoria ou corpo social. Também não temos hierarquia e estatuto.

O Mo.S.Ca. não exige filiação, taxa de inscrição e não cobra anuidade. Todos podem participar. E o compromisso nem é muito grande. Basta atitude.

O movimento se propõe a espalhar a idéia, absurda para muitos, de que calçadas (aquele espaço pavimentado entre a rua e o muro das casas) é para ser usado para o trânsito de pedestres.

Algumas sugestões que exigem atitude são aqui sugeridas aos membros do Mo.S.Ca.

Primeiramente cada um precisa garantir que suas calçadas sejam razoavelmente planas, livres de degraus, obstáculos e entulhos.

Então, toda vez que você encontrar alguém caminhando tranqüilamente pela rua, com aquela fleuma de quem vai do banheiro para o quarto, pergunte-lhe porque ela não anda na calçada. Se a resposta for (muito comum) de que não há calçada ou que ela está intransitável, pergunte porque ela não pede ao dono que faça ou conserte a calçada. Se ela responder que não conhece o dono, sugira que ela ligue para a Ouvidoria da prefeitura e denuncie a falta de calçamento.

Algumas ruas são excepcionalmente privilegiadas com calçadas repletas de obstáculos que parecem cuidadosamente planejados para a prática do montanhismo. Algumas, pelo preparo físico que exigem, bem poderiam fazer parte do circuito profissional de trekking.

Além do óbvio impedimento ao tráfego dos cadeirantes e dos carrinhos de bebês, tais calçadas também representam um risco à saúde e à integridade física de todos os pedestres.

A calçada, como tese sociológica, é o espaço de transição entre o público e o privado. Pertence aos domínios do terreno privado e, portanto, sua manutenção está a cargo do proprietário do imóvel, mas é um espaço de uso público.

Daí a origem do termo técnico que designa este espaço: Passeio Público.

O descaso com estes espaços em nossa cidade denotam a falta de responsabilidade e compromisso do cidadão para com a coisa pública. O que é público é de todos, mas freqüentemente se confunde o que “é de todos” com o que “é de ninguém”.

Ao ser consultado, o poder público municipal esquiva-se alegando que a responsabilidade pelas calçadas é do proprietário do imóvel.

Está correto, mas não é menos correto que poder público possui vários imóveis sem calçamento. São parques municipais, terrenos baldios, fundos de vale, o horto florestal e o Ecolixo ambos na rua Manaus. Os lotes próximos à prefeitura. E muitos outros.

A falta de calçada em tantos terrenos públicos é um péssimo exemplo à população.

Segue daí o impedimento moral, mas não legal, de fiscalizar os imóveis particulares que não tem calçada ou que estão com suas calçadas arruinadas.

Não é difícil fazê-lo. Basta usar os mesmos servidores que fiscalizam terrenos com mato e entulho. Basta usar a denúncia do cidadão pelo 156.

Imagine a revolução.

Não mais ver aquele monte de jovens andando pelas ruas a caminho da escola. Não mais pedestres desviando de carros apressados e calçadas traiçoeiras.

Imagine, todos os imóveis com calçadas e muretas.

Imagine uma cidade limpa, bem cuidada, quiçá bonita como aquelas que gostamos de visitar em férias e não cansamos de comentar com amigos dizendo que tinham a aparência bucólica de cidades européias com calçadas limpas e praças floridas.

São cidades exatamente iguais à nossa. A diferença está no cuidado que seu moradores tem com suas casas, suas calçadas e suas ruas.

Cuidado este que demonstra o respeito do cidadão pela coisa pública e que garante que ele não vai escolher como representantes políticos que não tenham este mesmo respeito e responsabilidade.

É, seria uma revolução.

Se queremos uma cidade assim, precisamos fazer esta revolução.

Revolução que começa como uma incômoda Mo.S.Ca. na sopa.

Já dizia Raul Seixas que não adianta ignorar, porque você mata uma, mas vem outra em seu lugar.

Então, já que a revolução tem que acontecer, porque não começar já?

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